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Reinventar o discurso e o palco : o RAP, entre saberes locais e olhares globais
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Memória pública e ''antepassados políticos'' através do RAP moçambicano
Janne Rantala
ResumoNeste artigo pretende-se examinar como os rappers de Maputo e outras cidades Moçambicanas mobilizam memórias e vozes do passado para expressar as suas exigências, ampliar as suas mensagens sociais e expressar a sua autoafirmação e a identidade local e nacional Moçambicana. Em Moçambique, a memória oficial remonta predominantemente à guerra pela independência de 1964-1974 e à resistência armada. Atualmente, as elites políticas moçambicanas, que ainda consistem em grande parte de antigos combatentes da libertação, muitas vezes justificam o seu poder utilizando narrativas retiradas de lutas históricas pela independência do país. Ao mesmo tempo, os rappers desafiam ativamente essas narrativas, comentando e combatendo a meta-narrativa oficial, seja “imaginada” ou real, através das suas músicas e letras. Os principais materiais de pesquisa são canções de RAP, vídeos e letras que envolvem pessoas já falecidas, alguns políticos, intelectuais e jornalistas, revitalizando a sua voz. Essas canções são analisadas através de um processo de leitura e escuta etnográfica: os materiais são contextualizados social e historicamente, através de observação participante em eventos, bem como durante entrevistas temáticas e partilha de memórias e visões futuras, particularmente com moçambicanos mais jovens. A metodologia baseia-se na antropologia fenomenológica e na antropologia dos sentidos. Pode dizer-se que, apesar das diferenças significativas nos contextos regional, temporal e social, os rappers estão insatisfeitos com a atual ordem social, de forma semelhante à dos combatentes anticoloniais durante a guerra pela independência. Rappers em Moçambique, assim como em algumas outras nações pós-coloniais, às vezes invocam e aliam-se a falecidos participantes de lutas anticoloniais para articular questões atuais. Proponho o conceito de “antepassado político” referindo-se àquelas, muitas vezes controversas, figuras históricas que ganham novo significado político após a sua morte. Uma das vozes invocadas é a do ex-presidente Samora Machel, mas também outras figuras que morreram ‘de forma errada’ são constantemente invocadas. Perspetivas sobre a sua memória como heróis, traidores, conquistadores ou libertadores diferem significativamente dependendo da região, do tempo e do grupo que os lembra. Esta investigação contribui para uma discussão multidisciplinar mais ampla sobre a memória pública na África Austral, papel e autoridade de figuras históricas e ideias locais espirituais sobre elas, e estudos de hip-hop internacionais.
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Data da última atualização: 2021-02-24
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